terça-feira, novembro 07, 2017

Polvo à espanhola


Pessoas que não leem em sítios que não vão ler!

Não devia ter esperado tanto tempo para exprimir alguns sentimentos. Há coisas que acabamos por deixar passar e depois de algum tempo acabam por vir ao de cima. Acabam sempre por vir ao de cima.
Há coisa que não podemos esconder e coisas que por mais que queiramos não conseguimos nunca recalcar.

Depois de ter passado o tempo suficiente e ter acabado exatamente no sitio onde estou agora, no momento onde estou agora decidi que estava na hora.

Há dias que ando a sentir a sua falta.

Por mais ridículo que seja a ultima coisa que te disse foi “como é que isso vai!”. Fodasse, que mais ridículo para dizer do que “Como é que isso vai?”. Estavas a empurrar o carrinho das compras ali no intermarche. Tinhas uma bengala dentro do carrinho… Juro que as vezes penso que ainda te vou ver a empurrar o carrinho das compras no intermarche. A única merda que eu e lembrei de dizer foi “como é que isso vai!”. A primeira vez que notei em ti a sério foi lá. Tinha eu 18 anos! Já lá vão 12 anos desde que reparei em ti. Nunca te disse...

Sempre com aquele ar de snob! Eras snob… mas não faz mal. Também eras do PSD… só o eras por causa da tua ligação com a igreja e porque eras patrão. Mas também não fazia mal seres do PSD. Acho que nada fazia mal… estava eu a trabalhar na caixa do intermache quando reparei em ti! Nunca te lembraste… também não faz mal! Eu reparei em ti!

Antes tinha te dito: “epah, depois preciso de falar contigo!”. Na realidade, não tinha nada para falar contigo. Queria só que me desses conselhos que sabia que não cumprias. Faz o que te digo e não faças o que eu faço. Também não faz mal. Aprendi imensas coisas no pouco tempo que te conheci. Deste-me imenso e nunca soubeste o quanto realmente te curtia. Mas também não faz mal.

Bebemos muitos copos juntos. Jogamos muitas vezes as cartas. Falamos até ser dia… e eu acabei por nunca ter falado contigo quando te disse que queria falar contigo. Talvez, te dissesse hoje que queria ser mais teu amigo. Gostava mesmo de ter sido muito mais teu amigo. Como tu foste para mim. Eu negligencio as minhas relações… tu sabes. Eramos parecidos em algumas coisas. Lá isso eramos. (editado *)

Passei a ver-te anos mais tarde até sermos formalmente apresentados. Foi uma ex-amiga que fez o favor de fazer cruzar as nossas vidas. Lembro-me onde foi. Como foi. O teu jeito, a tua jinga, a tua mão sempre com um copo. Lembro-me disso. Lembro me que me deste uma oportunidade… Lembro-me porque tenho provas disso.

Lembro-me quando nos teus anos… não… nunca foram os teus anos… Lembro-me de me abraçares, e dizeres que gostavas de mim. Pah, disseste que gostavas de mim e eu nem ao teu funeral fui. Não fui… não fui porque me ia custar. Ia-me custar horrores… não era ali que te iriamos prestar homenagem. Não era num funeral… mas mesmo assim não fui. Mas devia ter ido. Devia ter ido mas… não estava preparado para não poder falar contigo quando te tinha dito que precisava de falar contigo. Fodasse pah...  Porque raio é que não falei logo... porque raio deixei passar a minha oportunidade. Desculpa se me afastei… “vem ao bar” dizias. Desculpa.

As vezes via-te com deslumbre. Outras com desdém. Também conseguias ser um bocado irritante… tu sabes! Tipo quando deixavas a malta a falar sozinha ao telemovel... ia continuar uma frase quando dava por mim e já tinhas desligado. Só fiquei a anhar as primeiras 10 vezes. Mas principalmente quando andavas com a mula eras um bocado chato. Mas não faz mal… eu gosto de ti na mesma.

Hoje lembrei-me ainda mais de ti… talvez tivesse à espera que aparecesses aqui entretanto a comprar um Ventil e um Marlboro Gold para a D. Ela gostava mesmo de ti…

Paravas o Toyota e saias meio apressado. Era sempre igual, da mesma maneira, noite apos noite e às vezes durante o dia. Eu já sabia o que querias. Querias sempre o mesmo. Talvez esperasse por ti agora. Mas agora és tu que esperas por mim. Depois agente bebe um copo… Pago eu da próxima. Em honra daquilo que me deste, que por muito que pareça pouco, foi tanto. Claro que estou a chorar. Claro que já chorei a falar de ti... eu sou um choramingas. Mas não faz mal chorarmos pois nao? Bom, não vais responder mas acho que a tua resposta era que não fazia mal... se calhar ia-te incomodar um bocadinho. Eu sei que ia...  mas acho que não faz mal chorar. Fiz muitas coisas erradas... No fim ias dizer que ia ficar tudo bem, para não me preocupar.

Lembro-me de dizeres que querias ter um bar na praia… Se algum dia tiver um bar na praia, dou-lhe o teu nome! Juro que dou!

Desculpa e obrigado.

*Hoje, ao escrever este texto sei que há coisas que não podem ficar muito tempo sem serem ditas. Há pessoas que não podemos por fora da nossa vida por dá cá aquela palha. Acabei por perceber ao reler este texto que não podemos deixar para amanhã as coisas que queremos e temos de dizer às pessoas que gostamos. Claro que toda agente sabe isso mas só que as vezes não nos lembramos que temos de dizer as pessoas o quanto realmente gostamos delas... não podemos deixar de falar com as pessoas porque elas possam não ter aquilo que gostariamos que elas fossem. Cada um é um ser único, com defeitos, com virtudes e Se gostamos de alguém, se gostamos da companhia de alguém, se alguém é importante para nós e para a nossa vida, não podemos "depois" falar com elas. Amanhã pode ser tarde demais. Amanhã podemos não conseguir agarrar no telemóvel e ligar-lhes. As vezes passamos horas, dias, meses e não ligamos às pessoas que queremos. Outras vezes vezes só porque esperamos que nos liguem. Não podemos empurrar pessoas que gostamos da nossa vida porque o tempo e a distancia vai acabar por empurrar toda agente para longe. 

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