quinta-feira, dezembro 06, 2012

“Estava eu a beber o meu sumo de espinafres quando coiso. Aquilo era verde e sabia mal mas tinha de ser. Não havia mais nada que o frigorifico tivesse que se encaixasse na minha dieta. Dieta… Eu? Como podia sequer imaginar que um dia a minha vida tivesse que ser feita de dietas e cuidados com a comida. O médico informou-me assim, depois de uma consulta de rotina, coisa que nunca fazia, que o meu fígado não funcionava bem. “não é nenhuma doença, apenas não funciona bem! O que acontece é que apenas não funciona a 100%”. Ao menos não tenho cirrose, acabo por ter de pensar. Não é que não merecesse. Anos e anos de ingestão estúpida e abusiva de substâncias que causam isso e agora, “o seu fígado não funciona a 100%”. Boa. Agora era chás e ervas e coisas para limpar o organismo visto que o filho-da-puta do fígado não o fazia. E penso e tal. Acabo por me irritar com isto. Bebo mais um gole daquela porcaria e penso que mais vale acalmar-me se não ainda fico com uma úlcera também! O ipod estava na doca na cozinha. Ligo-o e deixo a música… reconheço… é Yael Naim. Ela estava a ouvir ontem á noite. Bebo mais um trago daquela bosta ao que ela e o médico chamam remédio chamam carinhosamente de “maneira de viver melhor durante mais anos”. Tretas mas é. De certeza que fico igual com espinafres ou qualquer batido de frutas ou legumes que bebo de manha… De certeza que fazem isso para me torturar. Os batidos e aquele chá quase horrível que tenho de ir bebendo ao longo do dia! Chego-me ao perto da janela. É verão e como o meu dia começou cedo apanhei aquela luz que adoro. Vejo a luz do dia que começa, o cheiro e os pássaros que também aproveitam e adoram aquilo. Como eu adoro aquela altura do dia. Nos anos que era jovem detestava. Detestava o acordar cedo. As únicas recordações que tenho dessas horas era, quando em mesmo jovem ia para o Algarve com os meus pais. Acordávamos sempre cedo para chegar lá cedo. Tinha aberto a janela para me poder debruçar e sentir aquele vento novo de um novo dia. Olhei para os prédios em volta, olhei para o céu com uma pequena nuvem aqui e ali. Voltei a olhar para os prédios com aquela luz linda a fazer espelhar os vidros. Agora, agora acordo cedo e gosto, porque me sinto em paz ao sentir aquele amanhecer. Bebo o último bocado, daquela coisa e solto em voz algo como “nhácaa, que merda…!”… A música anterior tinha sido substituída pelos U2… “with or whitout you” tocava agora ou era impressão ou estava algo mais alto que a sua antecessora… estava mais alta! Quando tomo mesmo a noção disso é quando sinto os seus braços a rodearem-me. Sei que está a esticar as pernas. A por-se em bicos de pés… sinto a sua bochecha a colar no meu ombro. Os seus cabelos roçam a pele das minhas costas e fazem-me um calafrio bom. Bem bom! Muitíssimo maravilhoso! Sinto o seu corpo para a respirar. Não diz nada durante uns segundos e fica junto a mim. Volta a não dizer nada durante mais uns segundos. Depois solta um “Bom dia meu amor!”. Sinto um aperto bom cá dentro. Aquele “meu amor” toca-me sempre tanto. “A dieta é para teu bem, ó tótó!! Não te quero perder cedo, por isso tens de te cuidar para ficarmos assim… Muuiiiittoooooosssss anos juntos!” Viro-me e olho nos seus olhos. Que coisa linda aqueles olhos. Ficava eternamente a olha-los… mas digo, “óh… por favor, como se não bastasse ter de beber estas coisas tenho de gramar contigo!?!?!?!” Deixo sair o riso todo que tinha controlado para conseguir dizer aquelas palavras enquanto ela me chama de Parvo… Beijo-a! Beijo-a e beijo-a vezes seguidas. Depois digo-lhe ao ouvido “Bom dia…”… Pergunto se ela quer um bocado do meu batido de espinafres para pequeno-almoço. Resposta é óbvia e rápida. Volto a debruçar-me na janela aberta enquanto ela fica ao meu lado. A ver o mesmo que eu. O dia a crescer naqueles bocadinhos. Enquanto comia uma ameixa,  perguntou-me o porquê de estar levantado a estas horas a um sábado. Ia correr. Ela sabia-o por isso não esperou pela resposta e acabou por dizer, “podias trazer almoço… estou preguiçosa hoje” Esboço um sorriso e digo “Tudo pela minha princesa! Agora, vou-me…” beijo-a na boca ao de leve e na testa prolongadamente. Deixo-a a ouvir a música e saio para a rua…”

3 comentários:

Miss.Ly disse...

Gosto!!



(Quem sabe um dia...)

Anónimo disse...

beautiful... ... ...
o amor entre mãe e filho é maravilhoso, tanto quanto o respeitoso beijo na testa <3

O Macaco Louco disse...

Mãe e filho... boa ideia mas um bocado ao lado!